Calçado ecofriendly - a busca pela sustentabilidade

O mundo da moda é um dos mais poluentes, as indústrias calçadista e têxtil são responsáveis por grande parte da poluição depositada no meio ambiente. A quantidade de resíduos pré e pós consumo é uma questão bastante preocupante. No entanto, o consumidor está mais exigente e as empresas do mundo todo já buscam soluções para resolver o problema.
As empresas calçadistas portuguesas têm se dedicado às questões sustentáveis com grande êxito, a adoção de medidas com base na sustentabilidade tem trazido benefícios tanto na gestão dos seus negócios quanto da sustentabilidade do meio ambiente. O setor tem investido na questão ambiental dando enfoque para a reciclagem e a economia circular. Em Portugal, o setor de calçados tem investido forte sendo considerado hoje uma indústria mais sustentável com relação aos processos produtivos, as matérias-primas utilizadas assim como a redução da geração de carbono. O setor possui planos de ação na busca por melhor produtividade, melhor qualidade, inovação e sustentabilidade.
A seguir compartilho algumas marcas portuguesas de calçado que tem se destacado na busca por oferecer um produto mais sustentável ao consumidor, são algumas das empresas contidas em um estudo que fiz sobre o setor, existem muitas outras empresas com esse propósito de sustentabilidade mas destaco hoje aqui 3 marcas.
Nascida em 2008, a Nae é uma marca de calçados portuguesa com filosofia vegan e preocupação com a sustentabilidade ambiental. O nome da marca Nae (No Animal Exploitation) já anuncia seu conceito e propõe uma alternativa justa e animal-friendly, desenvolvendo produtos sem exploração animal e fazendo o uso de materiais naturais e ecológicos sempre mantendo o compromisso com design, estilo e qualidade.
Os calçados são fabricados em Portugal através de empresas locais certificadas, que respeitam os seus colaboradores, sem a utilização de nenhum produto de origem animal e buscando o mínimo de impacto ambiental possível. São utilizados materiais como cortiça, microfibras (poliamida e poliéster reciclado) e algodão ecológico com certificação OEKO-TEX (que indica que tem produção isenta de pesticidas e desperdício de energia e água).
A Nae tem uma linha de produtos em que utiliza o airbag reciclado como matéria-prima, é feito o reaproveitamento da poliamida contida nos airbags sendo um material resistente ao frio, calor e chuva. A marca tem ainda uma linha de produtos feitos exclusivamente à base de garrafas de plástico e pneu reciclados, e uma linha de produtos confeccionados com fibras de folha de ananás.
O material feito da fibra de ananás, conhecido como Piñatex é resistente à água e ao calor e é também chamado de "couro" vegano. A Piñatex é produzida nas Filipinas por uma empresa inglesa que trabalha com comunidades locais de produção de ananás e que tem o objetivo de ajudar as comunidades locais, através de postos de trabalho dignos, remunerações justas e contribuição para o aumento da economia local. Para a fabricação do Piñatex são utilizadas somente a fibra das folhas da planta que foram descartadas após o consumo do fruto, sendo assim a sua exploração não visa a fabricação em massa deste tipo de fibra mas sim o setor alimentar.
Do sonho de poder colaborar com a limpeza do oceano nasceu a marca de calçados portuguesa Zouri, que teve seu lançamento em 2018, tendo como objetivo transformar garrafas e restos de redes de pesca deixadas nas praias em um produto. Como resultado disso surgiu a marca Zouri que a cada par de chinelos ou sandálias diz incorporar entre 80 a 100 gramas de plástico o que quer dizer que reutiliza cerca de 6 garrafas plásticas por par fabricado. A marca começou com a produção de sandálias e depois passou a produzir também tênis, buscam lançar modelos intemporais para serem usados por muitos anos e tem projeto de fazer coleções cápsulas de outros produtos.
Além de reutilizar o plástico retirado do oceano a marca também não utiliza nenhum produto de origem animal, sendo assim uma empresa vegan. A Zouri busca desenvolver um produto orgânico, ecológico e de comércio justo. Nos produtos são utilizados materiais como cortiça, borracha, o Piñatex (material feito de folhas de ananás, já citado na marca anterior) e o plástico reciclado do oceano. A sola é totalmente feita em borracha natural com o plástico reciclado.
Através da Universidade do Minho, em Portugal, foi desenvolvida toda a parte técnica da incorporação do plástico na sola que após várias experiências e testes resultou no produto final que além do plástico utiliza outras matérias-primas naturais sem impacto para o ambiente. O processo de produção é feito por artesãos em Guimarães (Portugal) e os produtos são entregues com a especificação de todos os materiais usados, são detalhadas quantidades e localização do plástico, além do nome das pessoas que fez o produto. Em 2017, o projeto da marca recebeu o prêmio de Melhor Ideia de Produto com Reutilização de Resíduos Plásticos, entregue pela Universidade do Minho - Fibernamics.
Segundo dados disponibilizados pela empresa mais de 22 milhões de toneladas de plástico vão parar no oceano a cada ano. O projeto de limpeza do oceano conseguiu obter um grupo de seiscentos voluntários de instituições locais, ONGs e escolas para nos ajudar a limpar da costa portuguesa conseguindo remover 1 tonelada de plástico das praias portuguesas em 1 ano.
Entre as ações criadas pela empresa está uma parceria com a ONG Sciaena, que irá fazer a recolha de plástico em zonas de profundidade marítima. Após a recolha do plástico, este é transportado e transformado pela Ecoibérica, uma empresa especializada na reciclagem de resíduos plásticos.
Os calçados Zouri são um exemplo de economia circular com reconhecimento em mais de 30 países mas busca não só a limpeza do oceano como também gerar impacto social através de ações de sensibilização nas escolas sobre economia circular.
Sandálias de dedo de cortiça, essa foi a ideia da marca de calçados ASPORTUGUESAS sendo a primeira marca no mundo a desenvolver sandálias de dedo com esse material que é 100% natural e extraído sem a necessidade do corte da árvore. A cortiça é a casca do sobreiro (Quercus Suber L.), a Árvore Nacional de Portugal. Portugal detém um terço da área global de sobreiros e portanto é o maior produtor de cortiça a nível mundial.
A marca uniu a preocupação com o meio ambiente e moda, através do desenvolvimento de um solado feito de cortiça que segundo a marca apresenta vantagens relacionadas a leveza e ainda garantem não aquecer e nem suar. O solado desenvolvido é inspirado nas ondas gigantes de Portugal e além de um design diferenciado prometem conforto extra. Além das sandálias de dedo a marca também utiliza o mesmo solado em outros modelos de calçados e com a utilização de vários materiais ecofriendly, como borracha natural e fibras recicladas.
Com relação a questão social, a marca tem um projeto que envolve apoio social, a cada par vendido da coleção é revertido 1€ à Escola de Surf para crianças órfãs criada pelo surfista havaiano Garrett McManara na praia das ondas gigantes Nazaré, em Portugal. O surfista também é embaixador da marca e assina duas coleções por ano.